Vendeu tudo,
deu aos pobres e logo foi acusada pelo jovem que a queria como esposa. Santa
Luzia, não querendo oferecer sacrifício ao deuses e nem quebrar o seu santo
voto, teve que enfrentar as autoridades perseguidoras e até a decapitação em
303, para assim testemunhar com a vida, ou morte o que disse: "Adoro a um só
Deus verdadeiro, e a ele prometi amor e fidelidade".
Somente em 1894 o
martírio da jovem Luzia, também chamada Lúcia, foi devidamente confirmado,
quando se descobriu uma inscrição escrita em grego antigo sobre o seu sepulcro,
em Siracusa, Ilha da Sicília. A inscrição trazia o nome da mártir e confirmava a
tradição oral cristã sobre sua morte no início do século IV.
Mas a
devoção à santa, cujo próprio nome está ligado à visão ("Luzia" deriva de
"luz"), já era exaltada desde o século V. Além disso, o papa Gregório Magno,
passado mais um século, a incluiu com todo respeito para ser citada no cânone da
missa. Os milagres atribuídos à sua intercessão a transformaram numa das santas
auxiliadoras da população, que a invocam, principalmente, nas orações para obter
cura nas doenças dos olhos ou da cegueira.
Diz a antiga tradição oral
que essa proteção, pedida a santa Luzia, se deve ao fato de que ela teria
arrancado os próprios olhos, entregando-os ao carrasco, preferindo isso a
renegar a fé em Cristo. A arte perpetuou seu ato extremo de fidelidade cristã
através da pintura e da literatura. Foi enaltecida pelo magnífico escritor Dante
Alighieri, na obra "A Divina Comédia", que atribuiu a santa Luzia a função da
graça iluminadora. Assim, essa tradição se espalhou através dos séculos,
ganhando o mundo inteiro, permanecendo até hoje.
Luzia pertencia a uma
rica família de Siracusa. Sua mãe, Eutíquia, ao ficar viúva, prometeu dar a
filha como esposa a um jovem da Corte local. Mas a moça havia feito voto de
virgindade eterna e pediu que o matrimônio fosse adiado. Isso aconteceu porque
uma terrível doença acometeu sua mãe. Luzia, então, conseguiu convencer Eutíquia
a segui-la em peregrinação até o túmulo de santa Águeda ou Ágata. A mulher
voltou curada da viagem e permitiu que a filha mantivesse sua castidade. Além
disso, também consentiu que dividisse seu dote milionário com os pobres, como
era seu desejo.
Entretanto quem não se conformou foi o ex-noivo.
Cancelado o casamento, foi denunciar Luzia como cristã ao governador romano. Era
o período da perseguição religiosa imposta pelo cruel imperador Diocleciano;
assim, a jovem foi levada a julgamento. Como dava extrema importância à
virgindade, o governante mandou que a carregassem à força a um prostíbulo, para
servir à prostituição. Conta a tradição que, embora Luzia não movesse um dedo,
nem dez homens juntos conseguiram levantá-la do chão. Foi, então, condenada a
morrer ali mesmo. Os carrascos jogaram sobre seu corpo resina e azeite
ferventes, mas ela continuava viva. Somente um golpe de espada em sua garganta
conseguiu tirar-lhe a vida. Era o ano 304.
Para proteger as relíquias de
santa Luzia dos invasores árabes muçulmanos, em 1039, um general bizantino as
enviou para Constantinopla, atual território da Turquia. Elas voltaram ao
Ocidente por obra de um rico veneziano, seu devoto, que pagou aos soldados da
cruzada de 1204 para trazerem sua urna funerária. Santa Luzia é celebrada no dia
13 de dezembro e seu corpo está guardado na Catedral de Veneza, embora algumas
pequenas relíquias tenham seguido para a igreja de Siracusa, que a venera no mês
de maio também.